quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Velhos são os trapos


Entramos num lar

Com a directora vamos falar

Que nos encaminha até vós, seres esquecidos

Olham-me de longe, meio que perdidos



Ao seu lado acabo de me sentar

De cima a baixo todos me tentam observar

Não demonstram entre eles grande confiança

Espelham olhares despidos de esperança

Anseiam por um pouco de carinho, de quem os faça sorrir

De alguém que pare para os ouvir

Pela solidão acompanhados

Pela familia nunca são visitados

Em lares despejados

Todos os sonhos são despedaçados



Tantas histórias por contar

Tanta mágoa naquele olhar

Pedem-me para voltar, e assim voltei

Porque por momentos interesse demonstrei

Contaram-me histórias da sua juventude

Onde os sonhos atingiam a plenitude

Tanto trabalharam

Pelos filhos se sacrificaram


E agora pergunto eu...Para quê?


Por vocês os vossos pais se sacrificaram

E vocês o que fizeram?

No lar os deixaram

Para não terem que se preocupar

Para a sua existência não terem que recordar

Porque agora já não vos podem ajudar

Agora só estão a estorvar


Corrijam-me se estiver errada



Não pensam na sua felicidade

Vivem à quem da realidade

Entre quatro paredes fechados

Muitos são esquecidos, maltratados


Mas vocês? Não querem saber

É melhor esquecer

Pensar que deixaram de existir

São seres humanos capazes de sentir



Por isso no dia em que os teus pais fores lá deixar

Lembra-te que um dia podes ser tu a ir para o lar

A ser esquecido

E por aqueles que mais amas és traído
Cathia Chumbo

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